"Ontem estivemos juntos, naquele café que sempre me obrigavas a ir. Nunca gostei daquilo, como bem sabes, o raio das pessoas sempre a falarem muito baixinho, as flores em cima das mesas, os empregados com um ar assustador como se fossem a qualquer hora tocar uma serenata – ai de ti que algum dia tivesses tido a triste ideia de me tocar uma serenata – mas, como sabes, fui eu que te convidei para lá irmos, e porquê naquele sítio? Para que visses que eu sei do que gostas e que sou capaz de ultrapassar as minhas vontades para te ver feliz. Não sou assim tão egoísta, meu amor.
A conversa começou bem, foi fluindo bem nas primeiras estações, como é que estás, como é que não estás, e o cão? E os teus pais? Já acabaste aquele livro que andavas a ler? Como estão as coisas lá no trabalho? Até que, silêncio, e a merda do empregado que aparece, com aquele ar de parvo
- Os pombinhos vão desejar mais alguma coisa?
Não imaginas a vontade que tive de o mandar para um outro sítio, bem longe daquela mesa, um sítio bem ordinário. Mas não. Limitei-me a sorrir, “não, obrigada”. Silêncio. Eu:
- Hás-de me dizer o que tem ela a mais de que eu?
- Quem?
- A outra com quem te andas a deitar.
- Estás com ciúmes, é?
(grande parvalhão)
- Ciúmes? Teus? Deixa-me rir… Só estou a meter conversa, além de que tenho curiosidade em saber, confesso, porque raio um badameco como tu, me troca por outra, que nunca poderá ser melhor do que eu.
- Estúpida. Consegues ser tão desagradável.
- Custa-te ouvir as verdades não é meu menino? Pois bem, comigo sabes que é assim, nada fica por dizer.
- Sei sei, bem sei, e é por isso que te deixei, lembras-te? E fica sabendo que ainda não arranjei outra mas tenho a certeza que não será difícil, para ser melhor do que tu, basta que tenha coração.
- Meu grande filho da mãe.
- Que foi? Custa-te ouvir as verdades minha menina?
Não te respondi, digo-te agora, sim, custa. Levantaste-te, pagaste a conta e foste embora. Nem um beijo. Nem sabes o que me arrependi toda a tarde pelos disparates que disse. Não era assim que queria que terminasse o nosso encontro, aliás, não contes a ninguém, mas tencionava trazer-te para minha casa…tinha preparado o quarto ao jeito que tu gostas. As flores, as velas, os lençóis…aqui sentada, olho para este cenário toda e sinto-me vazia.
Onde estarás agora?"