Eu e os meus pensamentos, frente a frente, numa conversa decisiva.
Eles “Então vamos lá a saber, ao que vem?”
(de notar que não existe uma grande intimidade entre mim e eles, daí o tratamento por “você”)
Eu “sabem que nem eu sei? Para aqui ando, confusa, eu sei lá…sinto-me assim, baralhada”
Eles “e diz-nos isso a nós? Acha que não sabemos que anda baralhada? O pensamento “y” ontem ainda se fartou de vomitar com as voltas que teve de dar em si, e vem-nos agora com essa conversa. Ainda se nos dissesse alguma novidade…”
Eu “que é que vocês querem? Eu não tenho culpa. Aliás, havendo culpados são vocês, que não me largam. É pá, larguem-me da mão um bocadinho, vá lá!”
Eles (irritados) “mas o que és tu sem nós? Achas que é que por boa vontade que andamos às voltas aí? Achas que gostamos? Que não temos mais que fazer, noutra pessoa por exemplo? Se achas estás muito bem enganada minha menina. Estamos aqui porque este é o nosso papel. Porque um dia nos criaste e agora nem se nós quiséssemos poderíamos sair, porque, em saindo, deixávamos de existir, nós e tu. Agora tens bom remédio, aguenta-te. Finge que não nos ouves se quiseres, mas desaparecer nós não desaparecemos.”
Eu (envergonhada) “oh, vocês desculpem…não foi por maldade que vos criei..mas sabem, tempo a mais, sempre, desde sempre… e aí vocês surgiram, que havia eu de fazer? durante um tempo deram-me tanta felicidade, eram a melhor coisa que eu tinha… mas depois foram aparecendo mais, e mais e cada vez mais, e às tantas até já se atropelam…acham que eu consigo dar vazão a isto tudo? Parece-vos possível? A mim não.”
Eles “paciência…tens de ter paciência”
Eu “ e eu tenho, amigos, palavra que tenho…mas sei lá, porquê que por exemplo não fazem turnos? Fazia-se uma selecção e umas vezes estavam uns e outras outros, que tal? Hã? Parece bem não é verdade?”´
Eles “e para onde iam os outros nos entretantos?”
…