8 de outubro de 2009

Procuração

Eu cá acho que, bom seria se podessemos passar uma procuração a alguém para viver, por momentos, a nossa vida por nós. Para responder e decidir por nós. Não precisava ser sempre, era só uns dias enquanto nós agarrava-mos e fazíamos umas férias. Mas íamos descansados, pois, porque sabíamos que aquela pessoa a quem tínhamos passado a procuração, era responsável e certamente haveria de viver a nossa vida tão bem ou melhor que nós. E quando voltássemos das nossas espectaculares férias, estava o problema (no caso de estarmos perante a existência de um problema) resolvido.

É que isso de vivermos sempre, a toda hora, às vezes cansa. Não é por mal, não se ofendam nem achem que eu me estou para aqui a queixar, eu até gosto de viver. Devo fazer parte das poucas pessoas que até acha graça a istoo de viver. E de viver a minha vida, de acordar todos os dias dentro de mim. De ser eu. Eu aprecio, não digo que não. Mas que querem, às vezes cansa. Às vezes precisamos de umas férias. Saía de mim, e ia por aí, sem eira nem beira, que fosse, mas ia sem nada que me prendesse. E depois vinha, cheia de energia, qual popeye depois de tomar os seus espinafres, qual asterix depois de beber a sua fórmula mágica. Ninguém me parava. E a pessoa a quem eu tinha passado a procuração, seria bem recompensada, vos garanto.

E no fundo, vamos lá a ver, há por aí tanta gente desocupada, cheia de vontade de viver. Porque não lhes facultar um emprego? Isto de arranjar emprego está cada vez mais difícil e eu cá acho que é preciso inovar. Podia não ser pago, porque a economia actual é aquilo que se sabe (eu pelo menos sei, vocês se não sabem, não há-de ser por falta de aviso com certeza) mas trocava-se por favores do mesmo género. Por exemplo, quando essa pessoa se sentisse esgotada, passava a procuração, neste caso a mim, e eu vivia a sua vida. Em part time claro está, porque nestes entretantos também precisavamos de viver a nossa, no caso de não querermos estar naquele momento a abdicar dos nossos direitos sobre a nossa vida.

Portanto, a questão é, a quem é que eu posso hoje passar a dita procuração?