5 de abril de 2008

Perdidamente..

"Quanto mais tempo livre se tem, mais se pensa. Pensar demais traz muitas vezes resultados negativos. Tento ultrapassar isso com as recordações. As boas, aquelas que sabemos que por mais mal que venha ao nosso mundo, nos vão sempre fazer sorrir. Mas as recordações, até mesmo as recordações, podem ser traiçoeiras, e enquanto deambulo pelas lembranças da minha vida, deparo-me com tanta coisa que não entendo. Tantos sentimentos, pensamentos que hoje não consigo entender. Gostava de entender por exemplo, o porquê de, numa altura em que nem sequer colocava hipóteses “alternativas” na minha vida, ter tido uma vez sentimentos tão diferentes. E aceitar isso com uma normalidade natural, como se sempre tivesse sido assim. E no instante seguinte, esquecer completamente para recordar apenas cinco anos depois? Ou o porquê de quando olho para mim, lá no passado, ver uma pessoa irreconhecível? Ver tantas tentativas desesperadas de ser alguém. E continuar, hoje, nessa procura, contínua, de entender quem sou.

Tenho impressão que sempre fui uma alucinada. Uma presença constante em duas vidas paralelas. A real e a imaginária. Já o disse tantas vezes.. mas pensando hoje, num passado tão distante (que foi ontem), há qualquer coisa em mim que me desperta preocupação.

Nunca encontrei um equilíbrio entre o Ser e o querer Ser. Entre o Ser e o Pensar. Entre o Ser e o Sentir. Nunca. Sempre esta dificuldade em me encontrar, porquê?

Se pudesse voltar atrás no tempo, como mera espectadora, ficava sentada a meu lado as 24 horas que fazem o dia, a observar-me. Imagino-me a meu lado, lado a lado, com um bloco na mão, “vamos lá observar essas reacções, essas expressões...”. Talvez assim entendesse. Se pudesse, voltava atrás e entrava na minha cabeça (com o bloco) tentando entender tudo o que pensei, desde sempre. Talvez agora, com algumas das coisas que sei, que aprendi, talvez assim, (me) entendesse.

E talvez (quase como num suponhamos) assim, eu esclarecesse as minhas dúvidas. Sim, dúvidas que permanecem, desde sempre.. Acerca de tudo, acerca de mim. Que sossego pode ter uma pessoa sem se encontrar? Clamo certezas que tenho e ausência de dúvidas. Mentira. Mentira. Dúvidas terei, sempre. Quem sou? O que quero? Para onde quero ir? ... Quem sou? Vivo naquele fio, que separa uns dos outros, sabem, essa linha? Eu estou no meio, só poderei estar.. e assim, nem sou uma nem outra. Não me reconheço. Por ser tão vulgar, não sou igual a ninguém. Sou assim, de uma complexidade simples."

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